
Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus. Filipenses 2:5
Querido(a) irmão(ã) em Cristo,
Que a paz que excede todo entendimento guarde teu coração e tua mente em Cristo Jesus. Que este momento, ainda que simples em sua forma de carta, seja um oásis para a tua alma sedenta. Oro para que, ao receberes estas palavras, sintas o Espírito Santo tocar suavemente teu coração, trazendo consolo, confrontação e esperança.
Hoje, quero caminhar contigo por um terreno sagrado. Não um lugar físico, mas um solo espiritual. Quero te convidar a olhar, com olhos rendidos, para uma das declarações mais desafiadoras e transformadoras que Paulo fez em suas cartas: “Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus”.
Ao ler essas palavras, algo em mim se cala. Um silêncio reverente, uma pausa necessária. Não estamos diante de um convite comum. Não é um mero conselho moral ou uma sugestão motivacional. Paulo está nos apontando para o maior padrão de vida que pode ser proposto a um ser humano: pensar como Cristo pensou. Ter em nós o mesmo sentimento que havia nele. Imitar não apenas Suas ações, mas Seu modo de ver o mundo, de amar o próximo, de obedecer ao Pai. Isso, meu irmão, minha irmã, é tão profundo quanto assustador.
Pense nisso: Jesus, o Filho do Deus vivo, o Verbo que se fez carne, aquele por meio de quem tudo foi criado… Ele não apenas se fez humano. Ele se fez servo. E mais do que isso, Ele se humilhou a Si mesmo. Ele não foi humilhado por forças externas. Ele não foi empurrado para baixo à força. Ele, voluntariamente, desceu. Ele, que tinha todos os direitos, abriu mão de cada um deles. Ele, que poderia exigir adoração, decidiu lavar pés. Ele, que poderia sentar-se no trono, escolheu a cruz.
E nós, seguidores do Cordeiro, somos chamados a esse mesmo caminho.
Como isso te atinge hoje? O que esse versículo revela sobre teu coração? Confesso que, ao escrever, sou o primeiro a ser confrontado. Quantas vezes anseio por reconhecimento! Quantas vezes meu orgulho se levanta, mesmo em pequenas situações! E então, o Espírito Santo sussurra: “Tenha em você o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus.”
Jesus não buscava glória para si. Sua vida era uma expressão perfeita de submissão à vontade do Pai. Ele não andava pelos caminhos esperando aplausos. Ele caminhava com compaixão. Ele enxergava o invisível. Tocava o intocável. Amava os desprezados. Perdoava os ofensores. Era firme com os hipócritas, mas ternamente acessível aos arrependidos.
Se queremos ter em nós o mesmo sentimento que havia em Cristo, isso significa permitir que nossa mente seja moldada pela mente dEle. Que nossas reações passem a refletir Suas reações. Que nossos pensamentos sejam constantemente filtrados pelo Espírito. Não se trata de um esforço puramente humano, pois seria impossível por nós mesmos. É uma obra do Espírito em nós, fruto de uma entrega diária e consciente.
Talvez tu estejas lutando com a vaidade. Ou talvez seja com o orgulho disfarçado de “autoconfiança”. Talvez a tua luta seja com a comparação constante: sempre te medindo pelos outros, sempre tentando provar algo. Ou talvez tu estejas cansado(a) de se doar, de se humilhar, de tentar fazer o que é certo, e se pergunte: “Vale a pena continuar assim?”
Oh, meu querido(a), vale. E vale não porque haverá recompensa humana. Mas porque essa é a essência do Reino. Porque quando tu ages como Cristo, tu te tornas parte daquilo que é eterno. Porque quando escolhes o caminho da cruz, tu te colocas nas mãos do Pai, onde há verdadeira segurança. E não estás só. Ele caminha contigo.
Jesus não viveu com pressa. Ele tinha tempo para ouvir, tempo para ensinar, tempo para estar com os que ninguém queria por perto. E mesmo quando estava exausto, Ele se compadecia. Seu coração era movido pela dor do outro. Como precisamos disso hoje!
Vivemos numa sociedade que grita: “Pense em si mesmo!”, “Proteja-se!”, “Não deixe ninguém te passar para trás!” Mas o Evangelho nos chama a uma revolução silenciosa: a revolução do amor sacrificial. Ter o mesmo sentimento que houve em Cristo é amar sem esperar nada em troca. É perdoar mesmo quando a ferida ainda lateja. É servir quando o cansaço aperta. É calar quando a vontade é gritar. É confiar quando tudo em volta diz para duvidar.
E antes que tu penses que isso é um fardo impossível, deixa eu te lembrar: o próprio Cristo vive em ti. O mesmo Espírito que habitava Nele agora habita em ti. Não estás tentando imitá-Lo de fora para dentro. Estás permitindo que Ele viva em ti, de dentro para fora. A vida cristã não é uma performance. É uma rendição.
Mas sejamos honestos: há dias em que não conseguimos. Há dias em que tudo em nós parece gritar o oposto. Nestes dias, não precisamos fingir. Podemos correr para o Pai, lançar-nos aos pés do Salvador e dizer: “Senhor, hoje falhei. Hoje fui tudo, menos parecido contigo.” E Ele, com ternura, nos acolhe. Ele nos lembra que Sua graça é suficiente. Que Seu amor cobre multidão de pecados. E nos convida a tentar de novo, com Ele ao nosso lado.
A santificação é um processo. E cada pequena escolha de humildade, cada ato escondido de serviço, cada pensamento cativo a Cristo… tudo isso está te moldando. Está te transformando à imagem do Filho. E haverá um dia em que tu olharás para trás e dirás: “Ah, Senhor… como Tu tens me transformado!”
Então, não desprezes os pequenos começos. Não subestimes os dias difíceis. O que o mundo ignora, o céu celebra. Os passos que tu dás em direção à cruz são, na verdade, passos rumo à glória eterna.
Filipenses 2 continua nos mostrando que, por causa da obediência de Jesus, o Pai o exaltou soberanamente. Isso nos ensina algo precioso: a humilhação precede a exaltação no Reino de Deus. Quem se abaixa, será levantado. Quem se esvazia, será cheio. Quem perde por amor, ganha a eternidade.
Talvez hoje tu estejas sendo chamado(a) a perdoar alguém. Ou a servir em silêncio. Ou a deixar de lado teu “direito” para que Cristo seja glorificado. Talvez estejas lutando para manter tua integridade onde todos ao teu redor já desistiram dela. Talvez estejas sendo incompreendido(a), rejeitado(a), criticado(a). Se for assim, lembra-te: estás sendo moldado(a) à imagem de Cristo. E isso tem valor eterno.
Meu desejo, ao escrever esta carta, é que tu te sintas encorajado(a). Não estás sozinho(a). Há muitos de nós, espalhados por este mundo, tentando viver esse Evangelho em meio às lutas diárias. E mais importante: o Senhor está contigo. Ele vê tua luta. Ele valoriza tua entrega. Ele caminha ao teu lado.
Não precisamos ser perfeitos. Mas precisamos ser rendidos. Que cada manhã seja uma nova chance de dizer: “Senhor, quero ter em mim o Teu sentimento. Molda meu coração. Alinha meus pensamentos. Que eu reaja como Tu reagirias. Que eu ame como Tu amas.”
E quando caíres, levanta-te. Quando te sentires fraco(a), busca forças nEle. Quando o mundo disser que és tolo(a), lembra-te que a sabedoria de Deus é loucura para os homens. E quando duvidares do caminho, olha para a cruz. Ali está o maior exemplo do que significa viver com o mesmo sentimento de Cristo.
Termino esta carta com lágrimas nos olhos e esperança no coração. Porque sei que o Espírito Santo há de usar estas palavras para acender algo novo em ti. Um desejo mais profundo de seguir o Mestre. Uma paixão renovada por viver como Ele viveu.
E quando, naquele dia glorioso, estivermos diante dEle, veremos que todo esforço valeu a pena. Toda renúncia. Todo ato de amor. Toda vez que escolhemos o caminho estreito. Porque então, ouviremos Sua doce voz a nos dizer: “Muito bem, servo bom e fiel.”
Com amor fraternal,
e sempre em Cristo Jesus,