
Queridos amigos e leitores do Cartas Gospel,
É com o coração profundamente entristecido e os olhos voltados ao céu em oração que lhes escrevemos hoje. Nossas palavras não são apenas linhas sobre uma página, mas um grito silencioso que ecoa por entre as florestas densas e trilhas silenciosas de Pueblo Seco, uma pequena vila rural na Colômbia que, nos últimos dias, se tornou palco de uma tragédia que atinge diretamente o corpo de Cristo: o desaparecimento de oito pessoas, sendo sete irmãos na fé, inclusive o líder da única igreja local.
Sim, amigos. Em pleno século XXI, em um mundo que se gaba de seus avanços tecnológicos e diplomáticos, ainda há lugares onde ser cristão representa um risco real e iminente à vida. Em abril de 2025, entre os dias 4 e 5, James Caicedo, Óscar García, Jesús Valero, Maryuri Hernández, Carlos Valero, Maryi Silva, Nixon Peñaloza e Isai Valero desapareceram sem deixar rastros. Sete deles eram membros ativos da igreja da vila, uma igreja simples, sem luxos ou fama, mas repleta de fé, oração e esperança.
Não se trata aqui de uma notícia passageira. Isso é mais do que um acontecimento local. É um clamor de dor e urgência que ultrapassa fronteiras e convoca cada cristão verdadeiro à intercessão, à compaixão e à ação.
Pueblo Seco, apesar do nome, está hoje encharcado por lágrimas. Lágrimas de filhos que esperam os pais retornarem, de esposas que não conseguem dormir sem o calor de seus maridos, de pastores que perderam seu rebanho, e de uma comunidade que se encontra sob ameaça constante de forças armadas ilegais que tomam o território e impõem o silêncio pela violência.
O prefeito da cidade, Farid Camilo Castaño, deu um passo corajoso ao expor o caso em suas redes sociais. Ele mesmo reconheceu a gravidade da situação, chamando-a de “uma das piores crises da história” da região. Apesar de três batalhões do exército colombiano estarem atuando na área, não houve avanços significativos nas buscas, deixando as famílias mergulhadas num mar de incerteza, angústia e medo.
Queremos, com essa carta, falar diretamente a você. Você que lê o Cartas Gospel com o coração aberto. Você que crê na Palavra de Deus. Você que sabe que quando um membro do corpo sofre, todos sofrem com ele. Porque o que está acontecendo na Colômbia não é um problema “deles” — é nosso também.
Os nossos irmãos estão desaparecidos. Os nossos. Não estrangeiros. Não meros nomes distantes. São parte da mesma fé que nos une. Parte do mesmo corpo. Pessoas que escolheram seguir a Cristo em um ambiente hostil, onde levantar a Bíblia é, por si só, um ato de resistência. Pessoas como você, que crê, que ora, que ama a verdade.
A pergunta que surge é: o que faremos com essa dor?
Não podemos apenas “sentir pena”. Não podemos apenas comentar e seguir a vida. Não podemos permitir que o esquecimento e o silêncio se tornem cúmplices dessa injustiça. Hoje, o que se exige de nós não é apenas uma emoção, mas uma resposta concreta e espiritual.
A primeira coisa que te convidamos a fazer é orar. Mas orar de verdade. Não aquela oração automática, antes das refeições, ou aquelas frases ensaiadas que saem da boca mas não tocam o céu. Nós falamos de oração de joelhos. De clamor. De súplica. De abrir o coração diante de Deus como se quem estivesse desaparecido fosse seu próprio irmão de sangue. Porque é isso que eles são: nossos irmãos em Cristo.
Ore por proteção e pelo retorno seguro de cada um dos desaparecidos. Clame para que Deus revele onde estão. Que os anjos do Senhor acampem ao redor deles, onde quer que estejam. Que a mão poderosa do Altíssimo os esconda e os sustente, mesmo que estejam sob cativeiro. Ore para que o Espírito Santo conforte as famílias que choram, que não dormem, que vivem dias e noites em total agonia. Ore para que a fé deles não desfaleça. E ore, sobretudo, para que a Igreja de Cristo na Colômbia continue firme, mesmo cercada pelas sombras da violência.
A segunda coisa que pedimos é compaixão ativa. Não basta sentir. É preciso se envolver. A organização Portas Abertas, parceira de missões e sustentação da igreja perseguida, tem atuado firmemente na investigação do caso e no apoio aos cristãos na América Latina. Através de sua contribuição, você pode ajudar no treinamento de líderes, formação bíblica e apoio pastoral em regiões onde pregar o Evangelho é um ato de coragem extrema.
Você pode não conseguir ir até a Colômbia fisicamente, mas sua oração, sua ajuda financeira, seu apoio moral e sua divulgação desse caso podem romper barreiras e alcançar lugares onde nem mesmo os exércitos conseguiram entrar.
Talvez, em algum momento, você já tenha pensado que a perseguição aos cristãos era algo restrito ao Oriente Médio ou à Ásia. Mas ela está aqui, ao nosso lado, na América Latina, na nossa vizinha Colômbia. E não se trata de perseguição ideológica ou de debates acadêmicos. É perseguição real, feita com armas, ameaças e desaparecimentos. É o tipo de violência que silencia vozes e destrói famílias.
Mas o Evangelho que cremos não é um Evangelho que se cala diante da injustiça. Jesus Cristo, nosso Senhor, nos ensinou a amar o próximo, a carregar as cargas uns dos outros e a lutar contra as trevas com a luz da verdade e do amor. Ele mesmo declarou: “Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus” (Mateus 5:10).
Queremos, com essa carta, reacender em você o fogo da intercessão. E mais do que isso, queremos lembrar que ser cristão é carregar a cruz do outro também. Não existe cristianismo confortável. Não fomos chamados para a neutralidade. Fomos chamados para ser sal e luz. E luz não se esconde. Luz brilha, mesmo no meio da escuridão.
Estamos vivendo dias difíceis, dias em que a igreja precisa ser vigilante, unida e fortalecida. É hora de levantar os olhos, de sair do piloto automático da fé e entender que a batalha espiritual é real, e as vítimas estão entre nós. Não podemos mais ignorar.
Hoje são os cristãos de Pueblo Seco. Amanhã, pode ser qualquer um de nós.
Portanto, concluo essa carta com um apelo pastoral e fraternal: una-se a nós em oração e ação. Divulgue esta situação. Compartilhe a dor desses irmãos. Envie essa carta para sua igreja, para seu grupo de oração, para seus amigos. Não os deixemos sozinhos.
Eles desapareceram. Mas nós não podemos desaparecer junto com eles em silêncio.
Que o Senhor Jesus Cristo, Rei da Glória, traga luz sobre o paradeiro de cada um dos desaparecidos. Que Ele fortaleça suas famílias. Que Ele levante uma geração de cristãos dispostos a orar, ajudar e jamais se calar diante da perseguição.
A você, que leu até aqui, nosso profundo respeito, gratidão e encorajamento. O seu papel, por menor que pareça, pode ser a diferença entre a vida e a morte, entre o esquecimento e a justiça.
Em Cristo e por Cristo,
Leandro G. Veras
Editor – Cartas Gospel