
Amado leitor em Cristo,
Há temas que pesam na alma. Palavras que se escrevem como orações, e pensamentos que se formam como denúncias. Hoje, não escrevo como amigo. Escrevo como servo. Escrevo como aquele que assiste, de mãos postas e coração inquieto, ao avanço de um sistema que tenta, a cada dia, vestir a aparência do bem — mas que, por dentro, transborda os desejos do mundo.
“Porque o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si mesmos com muitas dores.” (1 Timóteo 6:10)
Esta advertência do apóstolo Paulo ecoa com um peso diferente nos dias de hoje. Não é apenas uma verdade espiritual — é uma fotografia da realidade. E talvez você, como eu, esteja refletindo sobre o que foi publicado em 11 de abril de 2025 no portal UOL, na editoria de Economia, sob o título: “Igreja Lagoinha lança banco digital comandado por André Valadão e esposa.”
Sim. Um banco. Uma fintech. Com sede em Belo Horizonte. Com a promessa de “fortalecer o Reino” através de cartões de crédito, contas digitais e cashback.
E neste ponto, amado irmão, talvez você se pergunte: de qual Reino estamos falando?
Não sejamos ingênuos. O sistema financeiro, há tempos, tenta se infiltrar em tudo. Nos nossos sonhos, nos nossos relacionamentos, nos nossos púlpitos. Mas agora, ele se senta na primeira fileira do culto. Ele segura o microfone. Ele canta no louvor. Ele administra as ofertas e já está — literalmente — estampado nos slides das transmissões ao vivo das igrejas.
Segundo a reportagem do UOL, o Clava Forte Bank, fintech presidida por André Valadão, cantor gospel e pastor da Igreja Batista da Lagoinha, se apresenta como uma “ferramenta espiritual com tecnologia de ponta” — uma expressão que mistura a linguagem celestial com os termos do marketing corporativo.
Dizem eles: “Não é só um banco. É uma ferramenta espiritual.”
Mas o Senhor nos adverte: “Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de odiar um e amar o outro… Não podeis servir a Deus e a Mamom.” (Mateus 6:24)
A questão aqui, amado leitor, não é sobre um pastor abrir um banco. A liberdade econômica existe. A criatividade empresarial também. A tecnologia é bem-vinda. Mas o que precisa ser questionado é o disfarce: quando o capitalismo se veste de evangelho, quando o mercado assume o altar, quando o lucro se esconde atrás da “missão”, então precisamos acender o alarme espiritual.
O Clava Forte Bank, segundo o site oficial, promete transformar igrejas em “agentes financeiros autônomos”, oferecer “financiamento para templos”, “seguros de vida para pastores” e um sistema de “cashback para a missão”.
Veja bem: cada compra no cartão de crédito pode se transformar em bênção. Um marketplace “com valores cristãos”. Uma linguagem cuidadosamente montada para convencer o fiel de que consumir, gastar, financiar e acumular é sinônimo de espiritualidade.
Mas o nosso Senhor nunca nos chamou para acumular.
Ele nos chamou para dar. Para negar a nós mesmos. Para vender tudo, se preciso fosse, e segui-Lo.
“Ajuntai tesouros no céu, onde a traça nem a ferrugem consomem.” (Mateus 6:20)
A idolatria moderna não está em estátuas. Está nos boletos pagos com cashback.
Está na conta digital que promete bênçãos.
Está no dízimo automatizado via QR Code de uma fintech que, conforme apuração do UOL, não possui autorização oficial do Banco Central para operar. Nenhuma certificação da Febraban, nenhuma inscrição como Instituição de Pagamento ou Sociedade de Crédito Direto. Apenas uma promessa: “com fé e finanças, vamos destravar o propósito financeiro do Reino”.
Mas como pode um propósito divino ser destravado por um CNPJ?
Talvez você esteja pensando: “Mas e se for de Deus? E se o banco realmente ajudar igrejas pequenas, pastores carentes, obreiros que precisam de crédito?”
Essa pergunta é legítima. Mas a Palavra também é clara:
“Examinai tudo. Retende o bem.” (1 Tessalonicenses 5:21)
E o que temos aqui não é só uma iniciativa — é um sinal dos tempos.
A mesma igreja que deveria ser refúgio da simplicidade, da comunhão e da generosidade agora fala em “marketplace cristão”.
A mesma fé que nos ensina a orar “o pão nosso de cada dia nos dá hoje” está sendo usada para justificar consórcios, seguros e maquininhas de débito no púlpito.
A linguagem do marketing se apropriou da linguagem bíblica.
E isso, amado irmão, é um engano sutil. Perigoso. Mortal.
Estamos vivendo os dias de Laodiceia.
A igreja que dizia: “Sou rica, estou enriquecida e de nada tenho falta.”
Mas o Senhor respondeu: “Não sabes que és um desgraçado, miserável, pobre, cego e nu.” (Apocalipse 3:17)
Não é diferente hoje. Muitos ministérios estão embriagados de poder, de influência, de cifras. Mas perderam o primeiro amor.
Perderam o temor.
Quando os templos viram agências financeiras e os pastores viram CEOs, já não estamos mais em Jerusalém. Estamos em Babilônia.
Eis um alerta para os fiéis sinceros:
Não se deixe enganar por placas que dizem “em nome de Jesus” mas que escondem a idolatria do lucro.
Não se deixe cativar por cartões de crédito com versículos bíblicos.
Não entregue sua devoção ao sistema que quer transformar sua fé em produto.
O Espírito Santo não opera via cashback.
A graça de Deus não se acumula em programas de milhagem.
Diante disso, querido irmão, cabe-nos o retorno à essência.
Não é pecado ter recursos.
Mas é pecado fazer do dinheiro um altar.
É pecado usar o nome de Deus para maquiar estratégias financeiras sem transparência.
E aqui entra um ponto crucial do que o artigo do UOL denunciou: não há informações públicas sobre valores captados, número de usuários, volume de transações, nem autorização formal para operar. Mesmo assim, a imagem do banco Clava Forte aparece nas transmissões da Igreja Lagoinha — no Brasil e no exterior — como canal oficial de doações.
Como pode um banco operar, captar, arrecadar e movimentar recursos, inclusive internacionais, sem regulação formal, sem autorização do Banco Central, sem parecer jurídico ou institucional?
Em nome de Jesus?
A Palavra de Deus nos diz:
“Maldito aquele que fizer a obra do Senhor relaxadamente.” (Jeremias 48:10)
E ainda:
“Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem, mal.” (Isaías 5:20)
É por isso que escrevo esta carta. Não para julgar pessoas. Mas para clamar por discernimento. Por temor. Por reverência.
Jesus expulsou os cambistas do templo.
Hoje, os cambistas voltaram — só que agora com aplicativos e maquininhas.
E é com tristeza que reconhecemos: eles foram convidados para pregar.
Querido leitor, termino esta carta com um apelo:
Volte ao Evangelho puro e simples.
Volte ao Jesus que nasceu em manjedoura, que não tinha onde reclinar a cabeça, que entrou em Jerusalém montado num jumentinho e que morreu nu numa cruz.
Volte ao Jesus que nunca prometeu cashback, mas prometeu vida eterna.
Volte à oração, ao jejum, à Palavra.
Volte à comunhão dos santos, ao partir do pão.
Volte à entrega total.
Pois os dias são maus. E muitos estão negociando o Evangelho em troca de poder.
Estão fazendo da fé um balcão. E da Igreja, uma fintech.
Seja diferente.
Não ame o dinheiro. Ame a Verdade.
Não sirva a Mamom. Sirva a Cristo.
Não invista na missão que tem um CEO. Invista na missão que tem o Cordeiro.
“Mas tu, ó homem de Deus, foge dessas coisas, e segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a paciência, a mansidão.”
(1 Timóteo 6:11)
Com temor, amor e verdade,
Com informações UOL