
Meus amados irmãos e irmãs em Cristo,
Há momentos em que a realidade deste mundo nos fere com uma dor que não é física, mas espiritual. Uma dor que sangra em silêncio pelas frestas da tecnologia, do abandono emocional, da cegueira social. Nesta semana, fui impactado pela leitura de uma entrevista publicada no dia 27 pela jornalista Luciana Garbin, no Estadão, com o procurador de Justiça Fábio Costa Pereira. Confesso que precisei ler mais de uma vez, orando entre uma página e outra, pedindo discernimento ao Espírito Santo para compreender o que está, de fato, acontecendo com os nossos filhos — e com a nossa sociedade.
Nossos filhos não vivem mais no nosso mundo, declarou o procurador. Essa frase caiu como um raio sobre minha alma. Porque ela é verdadeira. Porque ela é dolorosa. E porque, como cristãos, somos chamados não a ignorar as trevas, mas a enfrentá-las com a luz do Evangelho. Sim, meus irmãos, nossos filhos — os adolescentes de hoje — vivem em um território que não conhecemos, que não compreendemos, que não dominamos. Eles estão mergulhados em uma realidade virtual que não tem limites de tempo, de espaço, nem de moral.
E o que temos feito com isso? Muitas vezes, como pais, pastores, irmãos e amigos, temos apenas olhado para o outro lado, acreditando que eles estão apenas jogando, ou fazendo dancinhas no TikTok, quando na verdade podem estar se conectando com grupos que semeiam o ódio, o vazio existencial, a violência extrema, o suicídio. Grupos que falam com eles na linguagem que nós já não sabemos mais usar. Grupos que se aproveitam de um vácuo espiritual, emocional e social que nós deixamos de preencher.
O Projeto Sinais, criado pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul, é uma tentativa corajosa e louvável de resgatar jovens que estão sendo cooptados por essas forças malignas. Sim, não há outra palavra: são forças malignas. Se você ainda acredita que neonazismo, jihadismo, tortura de animais e violência escolar são apenas “problemas sociais”, precisa urgentemente ler a Palavra de Deus com novos olhos. Estamos diante de uma batalha espiritual travada no invisível, onde Satanás se apresenta não mais com chifres e tridente, mas com um avatar sorridente em uma rede social qualquer.
O procurador Pereira, homem experiente na área jurídica, com formação também em segurança e inteligência, nos mostra como o fenômeno da radicalização juvenil se infiltra nas camadas mais profundas da sociedade. A entrevista revela dados assustadores: jovens de 10 a 25 anos sendo aliciados para o extremismo violento. O número de mulheres envolvidas nesses grupos tem crescido de forma alarmante. E, talvez o mais chocante de tudo, é perceber que muitos desses adolescentes vêm de lares considerados “estruturados”.
E então, o que está falhando?
Aqui, meus irmãos, precisamos fazer um exame profundo — de consciência, de fé, de propósito. Não basta mais dizermos que damos tudo aos nossos filhos. É preciso dar o que é essencial: atenção, presença, tempo, oração. Precisamos resgatar o valor da família não apenas como estrutura física, mas como alicerce espiritual. O procurador menciona o “triângulo maldito” encontrado em 100% dos casos investigados: famílias disfuncionais, bullying e excesso de telas. E aqui me pergunto: será que nossas igrejas estão preparadas para enfrentar essa realidade?
Não podemos mais fingir que o problema está só nas escolas públicas ou nos lares desestruturados. O mal não escolhe CEP. Ele se infiltra onde houver espaço. Ele entra pela janela do wi-fi, pelo celular deixado no quarto à noite, pelo silêncio cúmplice dos adultos. E ele se instala como erva daninha no coração de um jovem que sente-se invisível, incompreendido, sozinho.
Quantas vezes você já ouviu de um pai ou uma mãe: “Mas ele era tão quietinho, tão bonzinho”? Pois é exatamente aí que mora o perigo. Porque a adolescência é a fase da efervescência, do confronto, da descoberta de identidade. Um adolescente “quietinho demais” pode estar em estado de alerta, reclusão ou, pior ainda, em contato com influências que jamais imaginaríamos. É por isso que, como Corpo de Cristo, precisamos agir. E rápido.
Essa carta, meu irmão e minha irmã, não é uma crítica. É um chamado. Um alerta. Um choro em oração. Uma súplica para que você volte os olhos à sua casa, à sua igreja, à sua comunidade. Precisamos urgentemente criar espaços seguros onde nossos jovens possam ser ouvidos, acolhidos e acompanhados. Precisamos de discipulado verdadeiro, não apenas de culto e café. Precisamos falar a linguagem deles, sem abrir mão da verdade do Evangelho.
O projeto Sinais tenta identificar os pequenos indícios que antecedem a explosão da violência. Nós, como igreja, também precisamos fazer isso. Quando um adolescente começa a se isolar, a abandonar o convívio com os irmãos, a se irritar com a Palavra, a mostrar fascínio por temas sombrios, isso não é apenas “fase”. É sinal. E não podemos ignorar os sinais que o Espírito Santo coloca diante de nós.
Lamentavelmente, muitos têm colocado sua confiança apenas em programas governamentais ou em legislações mais rígidas. Mas é preciso entender que o que está em jogo aqui não é apenas segurança pública. É salvação de almas. E isso, meus amados, é responsabilidade da igreja. É nossa missão. Jesus não nos enviou ao mundo para formar espectadores, mas discípulos. E discípulos são formados no convívio, na escuta, no exemplo.
Quando lemos que em 2024 foram registrados 158 casos, com 41 considerados graves e 9 muito graves, nos deparamos com uma estatística que esconde um drama humano. Atrás de cada número, há um rosto. Um nome. Uma história que, muitas vezes, poderia ter sido redimida com uma conversa, uma oração, um abraço. Isso não pode continuar acontecendo diante dos nossos olhos como se fosse apenas “mais uma notícia ruim”. É mais do que isso. É uma tragédia espiritual.
Por isso, hoje eu te convido, como servo do Senhor, a se levantar. A orar. A jejuar. A conversar com seus filhos, seus netos, seus sobrinhos, os adolescentes da sua igreja. A perguntar com sinceridade como eles estão. A olhar nos olhos. A abrir a Palavra de Deus com eles, não como imposição, mas como guia amoroso. O inimigo está investindo pesado nessa geração porque sabe do seu potencial. E nós? Vamos ficar calados?
Não. Não vamos.
Vamos nos levantar como sentinelas. Vamos ser a luz que dissipa as trevas do mundo virtual. Vamos lembrar nossos filhos de que eles não são algoritmos. São almas eternas. E vamos, com amor, coragem e fé, construir pontes entre o mundo deles e o Reino de Deus.
Porque o nosso Senhor ainda é o mesmo. Ele continua salvando. Curando. Restaurando. E Ele conta conosco.
Com oração e esperança,
Cartas Gospel
28 de maio de 2025
Com informações Estadão