
Querido irmão, querida irmã,
Hoje escrevo com um peso no peito e os olhos marejados, como quem clama por misericórdia em meio a um furacão silencioso. Um furacão que não destrói casas, mas esfarela almas. Um furacão que não arranca telhados, mas esmaga corações de pais e mães que, como eu e você, um dia acreditaram estar fazendo o melhor — até que descobrimos que o “melhor” foi, na verdade, um convite inconsciente à perdição de nossos filhos.
“Me ajuda. Me interna. Eu estou surtada.”
Essas palavras ditas por uma filha adolescente a seu pai, no auge de um desespero que já não se escondia atrás das cortinas do silêncio, foram como um trovão rasgando o céu de uma vida comum. Aquele pai, que por proteção preferiu ser chamado de Paulo, descobriu de maneira brutal que sua filha estava participando de grupos de automutilação em plataformas online — um universo oculto que muitos ainda chamam de “rede social”, mas que mais parece uma cova digital, onde adolescentes trocam dores e cortes como se fossem likes e emojis.
Ele pensou que seria apenas mais um dia.
Mas aquele foi o dia em que sua vida, e a vida de sua filha, foi dividida em antes e depois.
Enquanto ela era atendida em um hospital, com feridas que sangravam mais por dentro do que por fora, Paulo fez o que muitos de nós não ousamos fazer por receio de invadir a privacidade: pegou o celular da filha e vasculhou. E ali, entre conversas cifradas e códigos adolescentes, uma palavra se repetia: Lulz.
Talvez você, como ele, ache que seja um erro de digitação. Mas não é.
“Lulz” é um símbolo sombrio usado por comunidades virtuais que se alimentam do sofrimento alheio, como vampiros emocionais. É o deboche do caos, o riso da destruição, a celebração da dor do outro. Paulo, naquele momento de dor e choque, caiu em uma reportagem de dois anos antes, do mesmo programa que agora compartilha sua história. Ali descobriu que a filha, como tantos outros jovens, estava sendo sugada por uma espiral de estímulos destrutivos, manipulada por uma subcultura digital que prospera na escuridão onde os pais não ousam olhar.
Me pergunto, irmão, irmã: quantas vezes você já pensou que seu filho está bem apenas porque “fica quieto no quarto com o celular”? Quantas vezes você agradeceu a Deus porque “ele não dá trabalho”, enquanto ele ou ela mergulha, dia após dia, em um universo onde a dor é romantizada, a solidão é compartilhada como mérito e a automutilação é uma espécie de medalha?
Quantos filhos nós estamos perdendo para os ídolos do silêncio, da tela e da ausência parental travestida de respeito à privacidade?
Paulo se culpou. E como não? Ele se culpou por ter dado um celular cedo demais, por não ter monitorado, por ter acreditado que “tecnologia é inevitável” e que “os jovens sabem o que fazem”. Mas o verdadeiro drama de sua história está no fato de que ele não sabia o que não sabia. E essa ignorância — essa falsa sensação de que estamos no controle enquanto nossos filhos estão sendo controlados — é o grande câncer que nos cega hoje.
Irmão, irmã, você já pegou o celular do seu filho hoje? Já olhou com olhos de quem realmente quer saber? Ou ainda está agarrado a esse pudor moderno que nos ensinou que amor é não invadir?
Paulo admite: “Esse pudor foi um dos meus grandes erros.” E hoje ele entende que amar é também ter coragem de confrontar, de entrar no quarto escuro, de abrir a porta do celular e dizer: ‘me mostra com quem você fala, o que você lê, o que você sente’.
Talvez você ache exagero. Mas se essa carta alcançar o seu coração como eu espero, talvez você também se ajoelhe hoje à noite e ore como nunca antes: “Senhor, revela-me o que os olhos não veem, o que os algoritmos escondem, o que o meu filho não tem coragem de dizer.”
A história de Paulo não é única. É só uma entre milhares que ainda não foram contadas. E a cada dia que passa, mais adolescentes são tragados por um mundo virtual que não foi projetado para curar, mas para viciar, manipular e deformar a alma. É aí que entra a voz de alerta do psicólogo Jonathan Haidt, autor do livro “A Geração Ansiosa”. Ele afirma que há uma relação direta entre o uso precoce e excessivo das redes sociais e o aumento dos transtornos mentais em adolescentes. Não é teoria. É estatística. É realidade.
Segundo Haidt, adolescentes que são internados e ficam afastados das telas por 15 a 20 dias começam a apresentar sinais de melhora. O cérebro se recupera. A identidade retorna. O brilho no olhar, antes ofuscado por luzes artificiais e selfies vazias, volta a surgir. O “filho doce e maravilhoso”, como ele mesmo diz, reaparece.
E não, não é só nos hospitais que essa transformação pode acontecer. Ela pode começar aí, na sua casa, hoje mesmo. Com uma mudança de hábito. Com uma decisão radical. Com uma oração. Com coragem.
Coragem para dizer não a um sistema que chama vício de conexão.
Coragem para dizer sim à vigilância amorosa.
Coragem para amar como Deus nos ama: com graça, mas também com disciplina.
Nosso Senhor Jesus Cristo, ao caminhar entre os homens, nunca prometeu uma vida fácil. Ele prometeu vida em abundância — mas vida verdadeira, não essa paródia digital que estamos permitindo que nossos filhos vivam. Uma vida de verdade exige presença, exige comunhão, exige diálogo. E sim, exige confrontação.
A Palavra nos adverte: “Instrui o menino no caminho em que deve andar, e até quando envelhecer não se desviará dele” (Provérbios 22:6). Mas como vamos instruir, se não sabemos por onde nossos filhos andam? Se nem sequer sabemos o nome dos grupos onde eles compartilham sua dor em segredo?
É hora de sermos pastores dentro de casa. De voltarmos a exercer o sacerdócio familiar. De tomarmos as rédeas do que nossos filhos consomem, não por opressão, mas por amor. Porque amor que não vigia é omissão. Amor que não se importa em saber é negligência. Amor que não se ajoelha em oração é arrogância disfarçada de modernidade.
Meu irmão, minha irmã, talvez essa carta tenha sido dura. Mas prefiro parecer duro agora do que escrever outra carta, amanhã, em tom de lamento, sobre mais um jovem que desistiu da vida antes de experimentar sua plenitude em Cristo.
Seu filho não precisa de mais seguidores. Precisa de um pai presente. Sua filha não precisa de mais curtidas. Precisa da sua escuta. Seu lar não precisa de mais Wi-Fi. Precisa de joelhos dobrados, olhos atentos e mãos firmes para guiá-los de volta à luz.
Que esta carta seja o início de uma revolução no seu coração. Que você, como Paulo, tenha coragem de se quebrar, reconhecer os erros e recomeçar. Porque a boa notícia — e sempre há uma boa notícia no Evangelho — é que ainda há tempo. O Deus que cura feridas também restaura famílias. O Deus que vê o secreto também revela o oculto. O Deus que ama os filhos pródigos é o mesmo que capacita os pais a irem buscá-los no meio dos porcos.
Termino com um apelo simples, mas urgente: vá até seu filho hoje. Não com sermão, mas com amor. Não com medo, mas com coragem. E se for necessário, diga como Paulo: “Filha, estou aqui. Me perdoa por não ter visto. Mas agora eu vejo. E não vou mais te deixar sozinha.”
Que o Espírito Santo nos conduza. E que cada lar que ler esta carta se transforme em solo sagrado de cura, reconciliação e vida em abundância.
Com informações Fantástico/G1